quinta-feira, 21 de novembro de 2013

004003 - DETERMINANTES PARA O FUNCIONAMENTO DO CRM

Como a maioria dos programas de mudança importantes, existem questões clássicas a serem consideradas no processo de negócios, sistemas de cultura e informações organizacionais. A implementação de uma visão empresarial fundamentada no Marketing de Relacionamento com Clientes não foge desta realidade.

Processo

Antes de uma organização poder começar a projetar e executar novos processos de CRM, em primeiro lugar deve desenvolver uma estratégia de cliente. A estratégia é necessária para direcionar questões críticas sobre o cliente, o tipo de segmento a empresa deseja, como clientes serão recrutados, como o atendimento será fornecido, como isto servirá para abordagem gerencial da carteira (portfólio) de clientes, e, o que será feito com clientes "Abaixo de Zero" (BZs).

Para implementar com sucesso o CRM, processos de gerenciamento de clientes precisam ser integrados na organização e de um ponto de vista holístico. Isto significa que os processos para identificação, atração, retenção e desenvolvimento de relacionamentos devem ser focalizados no cliente. Significa também que em muitos casos, as mudanças organizacionais significantes precisam ser realizadas. Uma visão de processo significa necessariamente que existindo estrutura departamental, de produto ou geográfica, estas não são mais válidas ou efetivas.

As mudanças nesta escala são difíceis de implementar e devem ser buscadas de imediato. Muitas empresas são movidas nesta direção e alcançam benefícios em curto prazo, ampliando os processos para além das estruturas departamentais existentes. Esta sobrecarga é projetada numa fase inicial, para incrementar a comunicação entre os departamentos, possibilitando compreensão mais ampla das necessidades de clientes. Enquanto isto, o projeto e implementação de processos para o CRM são desenvolvidos separadamente.

Mudança de cultura e desenvolvimento de competências

            As habilidades e capacidades de empregados precisam ser aumentadas onde o CRM é implementado. Os integrantes das equipes devem ser qualificados em solução de problemas, interação com clientes, serem capazes de entender e lidar com a nova tecnologia, e trabalhar prosperamente com novos processos.

Além, a cultura e os valores organizacionais precisam ser modificados quando vir a construir relacionamentos com clientes, particularmente quanto à efetividade e flexibilidade em lidar com clientes.

Muitas empresas implementaram centrais telefônicas (“call centers”) em anos recentes para melhorar o atendimento ao consumidor. Este é um bom exemplo dos desafios num processo difícil e demorado, que uma organização pode enfrentar quando introduz novas capacidades do gerenciamento de clientes. Muitas empresas experimentam alto retorno de chamadas na central. Chega-se a 6-9 meses para um integrante do grupo se tornar proficiente em lidar com os clientes. Vê-se que o tempo para a organização se tornar competente no relacionamento com clientes, é obviamente longa.

Este "tempo para competência" (como a Andersen Consulting se refere) será um fator crítico na determinação de quão bem sucedida uma organização será no gerenciamento dos relacionamentos com clientes. Usando o exemplo da central de chamadas (“call center”) novamente, outra dimensão de desafio enfrentada pelas empresas na mudança de sua organização para este nível de competência, é como as empresas podem apoiar seus empregados durante esta fase de desenvolvimento e aprendizagem.

A maioria das pessoas aprende 20% de suas habilidades num ambiente de sala de aula e os restantes 80%, no trabalho. Então, muitos integrantes de times estão aprendendo as habilidades de gerenciamento de clientes com clientes reais - um risco para a satisfação e retenção de clientes. Mesmo tendo o número e nível certos de recursos qualificados disponíveis para sustentar a equipe, os membros nesta fase de aprendizagem serão também um desafio.

Um ponto final sobre cultura e como afeta os relacionamentos com clientes, está na importância do vínculo entre satisfação de empregado e satisfação dos clientes. Já está clara a existência deste vínculo direto. Delegando (em nível de "empowerment") à linha de frente (atendimento direto a clientes), ser integrante da equipe será um aspecto da satisfação de empregado. É também essencial que estes, tenham uma forte identidade e convicção nos produtos e serviços que eles estão fornecendo para seus clientes.

Sistemas e tecnologia

Da mesma maneira que é importante ter uma estratégia de cliente quando iniciar a implementação de CRM, é igualmente importante ter uma estratégia de sistemas. É necessário especificar como qualquer sistema de curto prazo e piloto será provido para apoiar novas iniciativas de processos ou CRM. E ainda, como estes novos sistemas serão integrados com os sistemas existentes no longo prazo.

Novas tecnologias estão emergindo a todo o tempo. São novas tecnologias como a Internet e comércio eletrônico (“e-commerce”), central de chamadas (“call centers”), pontos de auto-atendimento (“self-service”) e cartões inteligentes (“smart cards”), que estão desenvolvendo capacidades de gerenciamento de clientes. Portanto, para muitas empresas é agora possível oferecer e gerenciar vários canais diferentes para o cliente.

Nesta situação, é essencial que todos os canais possam gerenciar o conhecimento de um cliente, no ponto de sua interação para melhorar o relacionamento e poder estender o conhecimento sobre este cliente. Contudo, chegar a esta visão única/combinada do cliente e fornecer estas informações para os pontos necessários na organização é um desafio, devido à natureza transacional de muitos legados de sistemas organizacionais de hoje. 

Mas, com apropriados programas de sistemas de estratégia e implementação, existe oportunidade para pela primeira vez, de ter uma única e total visão holística do cliente através das vendas, marketing, atendimento ao consumidor, finanças, e funções de suporte e manutenção.

A importância do comércio via Internet e comércio eletrônico como um canal pode não ser entendido. Estas tecnologias criaram um todo e novo veículo para comunicação com clientes. Isto mudou de um mecanismo de radiodifusão para um canal interativo de diálogo 1:1 (um-a-um, “one-to-one”) com os clientes. As empresas que não têm esta capacidade parecerão ser indiferentes para os clientes.

Novamente, da mesma maneira que no caso de iniciar ações de CRM, os sistemas usados para apoiá-lo devem ser pilotados, desenvolvidos numa abordagem passo-a-passo e devem ser justificados de forma contínua.


ARQUITETURA DO SISTEMA

Já deve estar fixada a idéia de que Marketing de Relacionamento é uma filosofia de administração empresarial baseada na aceitação da orientação para o cliente e para o lucro por parte de toda a empresa; no reconhecimento de que se deve buscar formas de comunicação para estabelecer um relacionamento profundo e duradouro com os clientes. Vale-se para este intento de ferramentas de banco de dados, assentando-se em informações, conhecimento e experiência (“knowledge-based” e “experience-based”).

            As principais características do Marketing de Relacionamento referentes a este paradigma de conhecimento, segundo McKenna, são:

* A integração do cliente no processo de planejamento dos produtos ou serviços, para garantir que os mesmos sejam desenvolvidos, não somente em função das necessidades e desejos do cliente, mas também de acordo com a estratégia do cliente. Isto é válido, principalmente, no mercado institucional ("business-to-business", empresa-empresa).

* O desenvolvimento de nichos de mercado onde, o conhecimento da empresa sobre canais de distribuição e identificação de segmentos, leva a um ganho de mercado.

* Desenvolvimento da infra-estrutura de fornecedores, vendas, parceiros, governo, e clientes, em que o relacionamento irá ajudar a criar e sustentar a imagem da empresa e o seu desenvolvimento tecnológico.
        
            Quanto aos aspectos de experiência, o Marketing de Relacionamento enfatiza a interatividade, conectividade e criatividade, significando que:

* A empresa irá despender esforços mercadológicos e tempo com os seus clientes, monitorando constantemente as mudanças que ocorrem no ambiente competitivo, através de um Sistema de Suporte a Decisões Mercadológicas, possuindo um afinado sistema de Inteligência de Mercado ("Market Intelligence") integrado a toda a empresa.

* Monitoramento constante da concorrência, dentro do conceito definido por Porter. Uma análise da concorrência é usada como um importante ponto de partida para prever as condições futuras da empresa, em que os prováveis movimentos de cada concorrente e da sua capacidade de responder a mudanças, pode determinar a perda ou ganho de vantagem competitiva.

* Desenvolvimento de um Sistema de Análise Mercadológica, que pela realimentação ("feedback"), principalmente pela mensurabilidade, retorna a informação sobre mercado, concorrência, e comportamento dos clientes, fornecedores e outros intermediários, para o Sistema de Apoio à Decisão. Aperfeiçoa-se o próprio sistema, permitindo uma tomada de decisão ágil e consistente, num processo contínuo de adaptação às condições mutantes do ambiente competitivo.

            Para conseguir plenamente tais intenções, o Marketing de Relacionamento deverá contar no planejamento de sua implantação, com a perspectiva de desenvolvimento de eficaz Sistema de Informações. Perceber mudanças, detectar novas necessidades, evoluir nas relações com o cliente exige competência, treinamento, ferramentas.

Transformar uma massa disforme de dados em informações, conhecimento profundo e ação dirigida, não é tarefa que se faça manualmente, principalmente quando se deseja medir impactos sobre resultados de negócio. A interação com o consumidor deve se dar através dos diversos meios disponibilizados: telefonia, venda direta, no contato face-a-face e eletronicamente (“self-service”, “e-commerce”). E o CRM deve contemplar todos eles.


Uma concepção de arquitetura para o sistema do Marketing de Relacionamento pode ser representada como na Figura 1.

Figura 1: Arquitetura do Sistema

Para ter sucesso, os profissionais de marketing devem contar com registros numa Base de Clientes, o que requer volume expressivo de dados sobre comportamentos de compra. Teoricamente, quanto mais dados, melhor. Daí a conexão necessária com um Banco de Dados (“Database”).

            Estes dados estão consolidados numa central de Armazenamento (“Data Warehouse”) onde há informações de fontes múltiplas, operacionais e externas, para manter uma visão precisa dos consumidores e negócio.

Recentemente, os profissionais de marketing adotaram uma ferramenta a mais em seu arsenal: programas de rastreamento de dados (“Data Mining”). São aplicativos que automatizam o processamento de uma montanha de dados, buscando padrões que sejam indicadores interessantes do comportamento de compra de consumidores.

            Evidentemente que os resultados deverão ser utilizados para planejamento e gestão de Campanhas específicas para os segmentos de clientes identificados (alguns preferem referir-se não a “segmentos”, mas “categorias” de clientes). Já estão disponíveis softwares também para o gerenciamento de campanhas, justificando-se a integração aos programas de rastreamento (“Data Mining”), pela possibilidade de ineficiência devido às falhas humanas. Os programas, além de segmentar conforme qualquer padrão rastreado, monitoram comunicações com os clientes em múltiplos pontos de contato, como por mala direta, telemarketing, atendimento direto, pontos de venda, vendas eletrônicas, filiais, etc.

            Em grandes linhas, o CRM estará englobando automação de vendas, central de chamadas (“Call Center”), comunicação de marketing, comércio eletrônico e realimentado um sistema de informações do negócio (“Business Intelligence”).

Vejamos o que representam particularmente estes módulos de arquitetura frente às áreas de atuação do CRM.

* Central de Chamadas, é transformar a central de atendimento numa central de relacionamento, onde cada operador tenha informações históricas completas e detalhadas do cliente, e possa envolvê-lo, informando-o sobre um processo em andamento, oferecendo um novo produto no momento certo, adequado ao seu perfil.

* Automação de Força de Vendas, é oferecer aos vendedores, informações completas e atualizadas de cada cliente, dando-lhe instrumentos para a tomada de decisão. O vendedor passa a ser um consultor de negócios, sintonizado com o perfil de cada cliente.

* Gestão de Marketing, é investir na definição de um público alvo para efetuar uma campanha, reduzindo os custos de telemarketing, mala direta etc. . É fugir daquele “número mágico” de 2% de retorno em campanhas de mala direta. É buscar, a cada contato, uma nova venda.

* Comércio Eletrônico (“e-commerce”), é implementar um novo relacionamento, onde seu cliente está a um “click” da sua empresa e do seu concorrente. Portanto, a empresa deve se reestruturar para trabalhar com este novo canal, sendo ágil na resposta, eficiente no contato, e buscar diferenciais no mundo virtual.

* Inteligência de Negócio (“Business Intelligence”), é o fornecimento de instrumentos para olhar o cliente, o mercado, seus competidores de forma multidimensional, com novas facetas sendo descobertas, fazendo a empresa diferenciar-se por enxergar um ângulo completamente novo, e abordar seu potencial ou atual cliente de forma inédita.  

            Qualquer que seja a proposta de arquitetura para o Marketing de Relacionamento, acima de tudo deve ser praticada diariamente, pelo resto dos tempos. É importante unificar conceitos e condutas empresariais, para que o cliente não sinta que é atendido por “uma empresa que é muitas”. Não importa o porte da empresa, o produto ou o serviço ofertado, ou a localização. A nova ordem é aproximar-se do cliente e conhecê-lo profundamente.


Material adaptado de:
POUND, James. Making CRM work. UK: CRM Forum Resources/White Whale, 2000.

BIBLIOGRAFIA
BODART, Suely M. . CRM - Seu cliente: a razão de sua existência. Business Travel. São Paulo: No. 31, 2000.
ECCS, European Centre for Customer Strategies. UK: ECCS, 2000.
THEARLING, Kurt. Increasing customer value by integrating Data Mining and Campaign Mangement software. UK/Boston: CRM Forum Resources/Exchange Applications, 2000.
VAVRA, Terry G. . Marketing de Relacionamento: aftermarketing. São Paulo: Atlas, 1993.


Profa. Enga. Olga Regina Cardoso, Dra.
                    CTC/EPS 
 Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Nenhum comentário:

Postar um comentário