sexta-feira, 18 de outubro de 2013

004002 - DEFINIÇÕES DO MARKETING DE RELACIONAMENTO DE CLIENTES

Não existe definição acordada universalmente, para o que seja a prática empresarial focalizada no relacionamento com clientes. E, certamente não porque se trata de algo que tenha sido definido recentemente... Leonard Berry foi o que primeiro trouxe o conceito de Marketing de Relacionamento quando descreveu em 1983, uma abordagem de longo prazo para o marketing. Muitos desde então vêm arranhando o termo em tentativas de encontrar uma definição. Parece ainda que são tentativas, porque o Marketing de Relacionamento ainda está longe de ter uma definição que seja totalmente convergente. Talvez pela própria característica daquilo que trata (relacionamento com clientes) e os meios que dispõe (tecnologia de comunicação) para atingir este objetivo.

            Veja como os principais especialistas definem o termo e que o mundo empresarial tem como conceito.

As definições seguintes são sugeridas pelas principais autoridades no campo de estratégias de cliente. Elas representam perspectivas diferentes na teoria e prática de gerência do relacionamento de clientes. Até recentemente, CRM foi comumente entendido como Marketing do Relacionamento de Cliente (Customer Relationship Management). Atualmente, é mais provável ser entendido como um acrograma para Gerência do Relacionamento de Clientes (Customer Relationship Management). Porém, existem algumas nuances importantes para alguns, como as definições que os especialistas a seguir sugerem. A seleção não é exaustiva mas traz, entretanto, a riqueza de significados e associações que estão ligados ao conceito.

Adrian Payne em “Relationship Marketing: Bringing Quality, Customer Service and Marketing Together” (1991)

Payne, um dos pioneiros principais de Marketing de Relacionamento na Europa, escreveu alguns textos, sementes no assunto. Ele define sua visão de Marketing de Relacionamento como segue:

"Marketing de Relacionamento trata sobre como maximizar o valor do cliente para a empresa, criando, construindo e prolongando relacionamentos de clientes com o fim de vender mais, fazer venda-cruzada, e mantendo clientes em longo prazo."

          Identifica várias características-chave do Marketing de Relacionamento:

* O movimento de uma abordagem de uma transação para uma de relacionamento, como uma série contínua de transações em lugar de uma transação individual.

* O movimento de uma abordagem funcional para uma abordagem funcional cruzada – reconhecendo que outros mercados, diferentes do mercado de clientes, precisam ser tratados.

* Uma visão holística centrada no cliente, em lugar de uma centrada no produto - reconhecimento que atendimento ao consumidor, marketing e qualidade precisam ser trazidos juntos e aproximados de modo coerente, em lugar de gerenciados de um modo discrepante dentro dos silos funcionais.

* Com a abordagem tradicional, objetivos funcionais são aperfeiçoados sem referência das necessidades da organização como um todo. Por exemplo, um departamento pode estar esforçando para conformar uma especificação de qualidade, mas isto não é necessariamente um objetivo favorável do ponto de vista da empresa – ou, realmente o do cliente.

Regis McKenna em “Relationship Marketing” (1991)

Regis McKenna estabeleceu uma reputação internacional durante as décadas passadas como um pensador e defensor do marketing. Sua visão é que o relacionamento é a próxima fase na evolução do marketing no centro das atividades corporativas. Ele descreve isto como um aspecto fundamental de fazer negócio, algo que devia impregnar o negócio inteiro, de cima para baixo. E mais, não é algo que pode ser apropriado por uma função única, mas uma prática que deve permear todas as partes da organização. "Marketing é construir e sustentar infra-estrutura dos relacionamentos de clientes. É a integração de clientes à empresa, desde o projeto, desenvolvimento, processos industriais, e de vendas. ... Todos os empregados precisam estar no negócio de construir relacionamentos de clientes."

Terry Vavra em “Marketing de Relacionamento: Aftermarketing” (1993)

O autor sugere a conotação de Marketing de Relacionamento como “pós-marketing”, e o define como “o processo de proporcionar satisfação contínua e reforço aos indivíduos ou organizações que são clientes atuais ou que já foram clientes. Os clientes devem ser identificados, reconhecidos, comunicados, auditados em relação à satisfação e respondidos. O objetivo do pós-marketing é construir relacionamentos duradouros com todos clientes.”

Martin Christopher em “Relationship Marketing for 
Competitive Advantage” (1995)

Christopher coloca Marketing de Relacionamento como uma visão mais ampla de marketing, que soma várias dimensões à visão convencional. Ele rompe a idéia de marketing sendo a responsabilidade de um departamento:

            "Provavelmente nós devíamos pensar em termos de gerência de relacionamentos tanto como em Marketing de Relacionamento – e gerência de relacionamentos necessita de abordagens funcionais cruzadas, baseadas em processos."

            Ao mesmo tempo, Christopher e seus colegas introduziram uma visão mais ampla dos mercados – a estrutura dos Seis Mercados esboçados que são o interno, de referência, influenciadores, empregados, fornecedores e de clientes.

Este modelo propõe que para sustentar valor de clientes, não é suficiente apresentar uma boa frente de contato para quem você está vendendo algo. A organização tem que construir relacionamentos com fornecedores, indivíduos dentro do negócio, profissionais que poderiam recomendar sua empresa, e assim por diante.

Christopher diz que Marketing de Relacionamento exige dos tradicionais profissionais de marketing mudanças no modo em trabalham:
"Eles têm que perguntar o que eles precisam fazer a fim de se tornarem um fornecedor preferido ou um entre as escolhas possíveis – para assegurar que clientes continuem voltando, sem ter que serem procurados todas às vezes para comprar."

Isso significa que profissionais de marketing devem pensar seus processos, sobre valor de cliente, antes de estarem acostumados a enfatizar valor de marca. Na arena do business-to-business, consolidação através de fusões e aquisições significa isto: “… os grandes sujeitos estão ficando grandes, e eles estão buscando reduzir sua base de fornecedores – eles querem fazer negócio com menos fornecedores."


Ian Gordon em “Relationship Marketing” (1998)

Consultor canadense com diversas publicações, define que o “Marketing de Relacionamento é o processo contínuo de identificação e criação de novos valores com clientes individuais e o compartilhamento de seus benefícios durante uma vida toda de parceria. Isso envolve a compreensão, a concentração e a administração de uma contínua colaboração entre fornecedores e clientes para a criação e o compartilhamento de valores mútuos por meio de interdependência e alinhamento organizacional.”

Merlin Stone e Neil Woodcock em “Relationship Marketing” (1998)

Indicam (consultores britânicos) que o Marketing de Relacionamento “é o uso de uma ampla gama de técnicas e processos de marketing, vendas, comunicação e cuidado com o cliente para:

  1. Identificar seus clientes de forma individual e nominal.

  2. Criar um relacionamento entre a sua empresa e esses clientes – um relacionamento que se prolonga por muitas transações.

  3. Administrar esse relacionamento para o benefício dos seus clientes e da sua empresa.”
 Evert Gummesson em “Total Relationship Marketing” (1999)

Este professor e consultor sueco reconhece que o Marketing de Relacionamento foi uma inovação que eclodiu internacionalmente nos anos 90, mas que certamente a percepção do que realmente é, não seguiu o mesmo caminho. Assenta que os valores fundamentais do Marketing de Relacionamento são: Colaboração de longo prazo para ganhar-ganhar, reconhecimento de todas as partes envolvidas num relacionamento são ativas, e, que relacionamentos e valores de serviço substituem valores burocrático-legais.

“O Marketing de Relacionamento Total (TRM - Total Relationship Marketing) é o marketing baseado em relacionamentos, redes e interações, reconhecendo que marketing está envolvido no gerenciamento global de redes da organização de vendas, mercado e sociedade. Está direcionado para relacionamentos ganhar-ganhar com clientes individuais, e o valor e criado conjuntamente pelas partes envolvidas. Transcende os limites entre disciplinas e funções especialistas”.

Robert Shaw em  "Measuring and Valuing Customer Relationships" (1999)

A definição de CRM indicada tem dupla intenção: ser prática, no sentido de estar baseada em processo, e discutível, por refletir o que vem ocorrendo no mundo real. Reforça também o significado de negócio nas atividades de organizações.

"Gerência do Relacionamento de Clientes (CRM) é um processo interativo para alcançar o equilíbrio ótimo entre investimentos corporativos e a satisfação de clientes, necessário à geração do máximo lucro. O CRM envolve:

* medição de entradas e saídas de todos os processos envolvidos no negócio - inputs através de todas as funções inclusive marketing, custos de vendas e serviços, e, outputs em termos de rendimento de clientes, lucro e valor.

* aquisição e atualização contínua do conhecimento das necessidades de clientes, motivação e comportamento durante todo o ciclo de vida do seu relacionamento com o negócio (se possível até depois deste tempo).

* aplicação do conhecimento de cliente para melhorar continuamente a performance através de um processo de aprendizagem dos sucessos e fracassos.

* integração das atividades de marketing, vendas e serviço para alcançar uma meta comum.

* implementação de sistemas apropriados para manter a aquisição do conhecimento de clientes, compartilhando-o e medindo a efetividade da CRM.

* flexibilização constante do equilíbrio entre entradas (inputs) de marketing, vendas e serviço em face das variações de necessidades dos clientes para maximizar lucros."

Um ponto forte de uma definição, é que ela deve sugerir uma cadeia de causas prováveis: ligando inputs à motivação do comportamento de clientes e estes, aos outputs. Tais inputs podem ser divididos em quantidade e qualidade de atividades. A concentração em aspectos emocionais do relacionamento de clientes mudou a ênfase sobre qualidade de inputs, considerando agora aspectos de satisfação. Sozinha, a idéia pode até produzir lucros mais altos, mas é mais provável que aspectos mais concretos devam ser tratados. Profissionais de marketing tenderam a concentrar mais em assuntos de quantidade, como freqüência de exposição de TV ou volume de mala direta. Isoladamente, inputs crescentes em quantidade não criarão aumentos sustentáveis de lucros em longo prazo.


COMO EMPRESAS INTERPRETAM CRM


A cobertura que vem recebendo o assunto de gestão e Marketing de Relacionamento de clientes poderia sugerir que existe uma definição estável desta atividade. Isto está longe de ser verdade. Existe uma diversidade considerável no meio de gerentes quanto a metas e ações que constituem esta abordagem.

Uma pesquisa foi empreendida pelo Dr. Robert Shaw da Business Intelligence, na qual 131 executivos seniores no Reino Unido, EUA e a Europa eram questionados sobre o alcance de assuntos estratégicos-chave, especialmente aqueles relativos a gerenciamento, marketing e medidas de clientes. Como parte da pesquisa, os respondentes eram solicitados a dar definições livres de sua compreensão do Marketing de Relacionamento.

Uma característica notável deste exercício foi a diversidade de definições que rendeu. Da amostra total de 131 gerentes, 53 disseram que eles não conheciam - uma acusação ao modo que este assunto se desenvolveu sem qualquer rigor. Entre aqueles que responderam, os aspectos mais freqüentemente mencionados bateram somente em 11 registros, mostrando que estão longe de serem um consenso para o tema.

Existe também ampla evidência da confusão sobre o conceito do Marketing de Relacionamento e do exagero no mercado. Uma resposta típica, demonstrando as expectativas não realísticas eram: "Honrando compromissos da empresa para com outras empresas, pois eles eram compromissos pessoais entre você mesmo e outros indivíduos." Semelhantemente, resposta de um exagero infetado era: "A captura não intrusa de informações dos clientes principais para o desenvolvimento de proposições de serviço através da revelação de demanda não visível."

Um diretor administrativo na pesquisa forneceu uma resposta que com precisão sobre o assunto: "O termo costumava descrever um comportamento desejado que normalmente carece de substância. As equipes de vendas/marketing falam sobre isto, mas não entendem. É usualmente indicativo de estratégias dirigidas por frases de propaganda."
Se os benefícios genuínos da gerência de relacionamentos de clientes devem ser obtidos, é crítico que diretores de nível sejam providos com um conjunto coerente e provável de ações e resultados.


MARKETING DE RELACIONAMENTO DE CLIENTES ou GERENCIAMENTO DO RELACIONAMENTO 
COM O CLIENTE ?

São reconhecidas as duas expressões. Em muitos contextos, elas são quase intercambiáveis. Às vezes, uma empresa usará "gerenciamento do relacionamento com o cliente" porque ela não quer transmitir a idéia que logo se associa à palavra "marketing". Em outros casos, por exemplo, no setor de organizações governamentais, marketing não é uma disciplina totalmente aceita, de forma que a expressão gerenciamento do relacionamento (aplicado a clientes, contribuintes etc.) é preferida. Assim se posiciona Stone (1998), argumentando que o Marketing de Relacionamento enfoca o uso de técnicas específicas de marketing, enquanto o gerenciamento do relacionamento com o cliente descreve como toda a organização funciona junto ao cliente. Preferimos não nos envolver nesse debate, principalmente porque a prática do Marketing de Relacionamento está evoluindo rapidamente, e independente do que se atribua à sigla CRM, os pressupostos conceituais são os mesmos: foco no relacionamento com clientes para a geração de resultados.


Material adaptado de:
ECCS, European Centre for Customer Strategies. UK: ECCS, 2000.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHRISTOPHER, Martin, PAYNE, Adrian, CLARK, Moira, PECK, Helen. Relationship marketing for competitive advantage: winning and keeping customers. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1995. 
GORDON, Ian. Relationship marketing. USA: John Wiley & Sons, 1998
GUMMESSON, Evert. Total relationship marketing: from the 4Ps – product, price, promotion, place – of traditional marketing management to the 30Rs – the thirty relationships – of the new marketing paradigm.
McKENNA, Regis. Marketing de Relacionamento. Estratégias bem-sucedidas para a era do cliente. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
PAYNE, Adrian, CHRISTOPHER, Martin, e BALLANTYNE, David. Relationship marketing: bringing quality, customer service and marketing together. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1991.
STONE, Merlin. Relationship marketing. U.K.: Kogan Page, 1998.
VAVRA, Terry G. . Marketing de Relacionamento: aftermarketing. São Paulo: Atlas, 1993.



Profa. Enga. Olga Regina Cardoso, Dra.
                          CTC/EPS
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

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