domingo, 6 de outubro de 2013

005001 - FUNDAMENTOS do ENDOMARKETING - Abordagem de Saul Faingaus BEKIN

A publicação de BEKIN traz seu trabalho como numa entrevista. Ele mesmo se justifica: “Livros didáticos sempre foram, em geral, maçantes para mim. Prometi então que se um dia acontecesse de eu escrever um livro seria diferente: texto menos pesado, coloquial, quase a reprodução de um bate-papo, ou, melhor, por que não em estilo de entrevista, como se fosse uma reportagem de revista?” Apresenta-se a seguir, sem ferir as idéias do autor, uma seleção dos principais tópicos de interesse de estudo.


1.    Vamos abordar diretamente o Endomarketing e seus fundamentos.
Quais são?
(...) O Endomarketing sempre existiu, ainda que de maneira informal e intuitiva, nas empresas dirigidas com espírito de liderança integradora e eficiência. Dito isto, é preciso assinalar o objetivo e a função do Endomarketing. Para começar, vale a pena retomar a definição dada na nossa primeira conversa. O Endomarketing consiste em realizar ações de marketing voltadas para o público interno da empresa, com o fim de promover entre seus funcionários e departamentos aqueles valores destinados a servir o cliente. Pois bem, nesta definição, temos implícito o objetivo do Endomarketing: fazer com que os diversos departamentos e seus funcionários compartilhem os valores e objetivos da empresa. Deste modo, surge um processo de coesão e comunicação no ambiente interno.
  
2. Isto quanto ao objetivo, e a função?
            A função do Endomarketing é integrar a noção de cliente nos processos internos da estrutura organizacional para propiciar melhorias substanciais na  qualidade de produtos e serviços. Em outras palavras, o objetivo do Endomarketing consiste em atrair e reter o cliente interno - os funcionários - com a função de obter resultados eficientes para a empresa, atraindo e retendo seus clientes externos.
  
3.    Você falou em clientes interno e externo.
Poderia retomar esses pontos e explicá-los melhor?
Sem dúvida. Em outras palavras, pode-se também dizer que o objetivo do Endomarketing é fazer com que os funcionários "comprem" a empresa. Isto significa ver e tratar seus funcionários como clientes internos, dando-lhes consciência do objetivo estratégico da empresa: servir o cliente da melhor maneira possível. Não podemos esquecer que, do ponto de vista estratégico, o Endomarketing é um processo para adequar a empresa a um mercado orientado para o cliente. Deste modo, a relação da empresa com o mercado passa a ser um serviço feito por clientes internos para clientes externos. É assim que o Endomarketing estimula toda a organização a manter-se voltada para o atendimento do mercado. Deste modo, a empresa torna-se mais competitiva. Esta é a importância básica do Endomarketing para o resultado final da empresa: tornar-se mais eficiente, mais competitiva. Portanto, deste ponto de vista, sua importância é estratégica.
  

4. Entendo. Mas cabe aqui uma pergunta: como verificar esta importância?
Já vimos que o Endomarketing possui uma importância estratégica e, neste sentido, não pode ser separado do marketing. Todos sabem que um bom plano estratégico deve fazer uma avaliação do cenário ambiental. Esta avaliação do ambiente externo é sempre feita com pleno uso de recursos, mas normalmente limitados. Todas as baterias da empresa são acionadas para o plano, voltadas para viabilizar as estratégias capazes de gerar o aumento de vendas. Para tal, faz-se a pesquisa para identificar necessidades não satisfeitas do cliente, analisa-se o ambiente econômico, tecnológico, social, cultural e até governamental do cenário externo. Mas todo esse trabalho corre o risco de ser subtilizado, porque é incompleto: onde está a avaliação do ambiente interno da organização? Aqui está a importância estratégica do Endomarketing e, ao mesmo tempo, sua relação estratégica com o marketing. A importância da avaliação do ambiente interno é tão grande quanto a avaliação do ambiente externo. Já se disse que, antes de conquistar o mundo, é preciso conquistar a si mesmo. Guardadas as devidas proporções, é preciso conquistar primeiro o mercado dos clientes internos para em seguida lançar-se ao mercado externo. Não se pode partir do pressuposto de que todos vestem a camisa da empresa, pois isto nem sempre é verdade. Ou melhor, quase sempre não é verdade.
  
5.    Muito bem. Já vimos a necessidade de avaliar o ambiente interno
e você mostrou também os dados relativos tanto aos clientes finais
quanto aos clientes intermediários. Agora impõe-se uma pergunta:
o que é preciso para se criar um processo de Endomarketing?
            O Endomarketing deve partir de três premissas básicas: 1) Estamos num mercado orientado para o cliente. Clientes só podem ser conquistados e retidos com um serviço excelente; 2) Funcionários têm expectativas, são um ativo valioso e constituem o primeiro mercado para a organização. Assim, funcionários devem ser tratados como clientes e valorizados como pessoas; 3) Excelência de serviços para os clientes e gerenciamento de recursos humanos significam muito mais do que sorrisos e tapinhas nas costas. Significam envolver e comprometer os funcionários com os objetivos e decisões da empresa. Estas três premissas trazem como conseqüência um principio: este processo de envolvimento, comprometimento e valorização do funcionário deve preceder o marketing externo.
  
6. Mas só pode haver envolvimento do funcionário, se ele se sentir valorizado. Não é mesmo?
É preciso insistir e deixar bem claro que o enfoque principal é tratar o empregado como cliente. Os bens e serviços criados pela empresa têm de ser vendidos para os empregados antes de irem para o mercado externo. É preciso vender as idéias para os empregados, e vendê-las muito bem. Por outro lado, para que eles participem, é indispensável valorizá-los. O processo de envolvimento do funcionário anda de mãos dadas com o processo de sua valorização. Já é hora de acrescentar que o Endomarketing é um processo holistico.
  
7. Um processo holistico? Como assim?
            Na abordagem holistica, a empresa é vista como um todo integrado, visível em todos os seus aspectos. Esta atitude desencadeia um processo que gera a motivação e a capacitação de todos os empregados. Neste ambiente, o passo seguinte é promover a comunicação e a troca de informações em todos os níveis da empresa. Trata-se, portanto, de um processo capaz de gerar um relacionamento cooperativo, a responsabilidade compartilhada: a coesão, o verdadeiro trabalho em equipe. E isto só é possível, vale a pena dizer mais uma vez, por meio da interação constante entre as várias áreas da empresa. Este conjunto de condições favorece então uma vida profissional sadia, que se transfere para o ambiente familiar e deste para o social.
  
8. Bem, vimos as premissas para a aplicação do Endomarketing
e a natureza holistica deste processo. Qual é a próxima etapa?
Depois das premissas, é preciso verificar e examinar as condições para a implantação do Endomarketing. O exame das condições internas necessárias para a aplicação do Endomarketing é de importância decisiva, pois remete á cultura organizacional e á decisão de os dirigentes implementarem o Endomarketing. Agora vou enunciar estas condições: 1) O Endomarketing deve ser visto como parte integrante da estratégia global da empresa; 2) O processo de Endomarketing requer conhecimento, informação, compromisso e apoio decidido dos altos executivos da empresa, do comando da empresa; 3) O processo de Endomarketing deve avaliar os pontos fortes e fracos da estrutura organizacional da empresa, isto é, as forças e condições que prejudicam a produtividade e o envolvimento dos funcionários.
            Nunca é demais enfatizar o apoio decisivo do comando administrativo da empresa. Afinal de contas, a primeira condição enunciada - Endomarketing como parte da estratégia da empresa - implica uma decisão tomada pela alta administração. Além disso, a força impulsionadora da liderança pela conduta deve estar presente no processo de comunicação e motivação. Pergunta-se: como o liderado poderá exercitar as suas atribuições se os lideres não forem capazes de conduzir adequadamente o processo para envolver os funcionários? Mais do que desejável, torna-se necessário, portanto, que o Endomarketing comece pela alta administração. Mas isto nem sempre vem de maneira espontânea. Pelo contrário, muitas vezes encontra obstáculos. 

9. Que obstáculos são estes?
            Aqui, esbarramos num componente psicológico, formado de hábitos adquiridos, de valores obsoletos ligados a estruturas organizacionais sem flexibilidade. O grande inimigo do Endomarketing é a resistência que pode ser oferecida á sua implantação por alguns setores da empresa. Esta resistência pode assumir a forma de argumentos. Um exemplo está em idéias como. "Para que toda esta mudança? Em vez disso devíamos nos concentrar numa campanha dirigida ao consumidor". Ou, então, "Estamos indo bem, precisamos apenas incentivar um pouco mais os gerentes para um esforço maior nas vendas", etc. etc.
            A resistência é um fenômeno sempre presente quando se trata de mudança, de novas idéias. É uma espécie de resposta marcada pelo apego ao que já existe, em que as pessoas se sentem ameaçadas com a modificação de atitudes a ser introduzida. Acrescente-se também que o processo de Endomarketing requer, em muitos casos, mudanças na cultura organizacional no sentido de torná-la mais flexível, de disseminar conhecimento, gerar responsabilidades e delegar poder de decisão aos funcionários. Mais adiante, trataremos disto num capitulo dedicado á estrutura organizacional.
            Já se disse que toda nova idéia ou nova verdade passa por três etapas. Primeiro, é ridicularizada. Depois, recebe todo o tipo de oposição e contestação. Por fim, é aceita por todos como auto-evidente. Trata-se de um processo inevitável que termina com a afirmação da nova idéia, porque ela corresponde a uma realidade nova, a um avanço em determinado campo do comportamento ou do conhecimento humano. Dá-se o mesmo com o Endomarketing. É uma nova idéia baseada numa nova realidade: a do mercado orientado para o cliente. Dito isto, podemos voltar á nossa afirmação de que o Endomarketing tem de começar necessariamente pela alta administração da empresa.
  
10. Mas, se o Endomarketing deve começar pela alta direção, não deve também envolver em seguida outras lideranças da estrutura administrativa?
            O passo seguinte deve ser o envolvimento da administração média, gerentes e supervisores. Trata-se de um processo de convencimento, para que eles aceitem o Endomarketing e assimilem a sua necessidade dentro dos objetivos estratégicos da empresa. A idéia central está baseada no marketing como uma realidade que deve atravessar toda a empresa, que deve conjugar os esforços de todos os setores. É fundamental, por exemplo, levar a consciência desta atitude até o setor de pesquisa e desenvolvimento de produtos.
            O comprometimento dos gerentes com o processo de Endomarketing visa a transformá-los em agentes de mudança, de uma nova atitude de comprometimento capaz de envolver os funcionários, dando-lhes a percepção de que todos são de algum modo "pessoas de marketing" (conhecidos também como os "marketeiros de plantão"). Após este trabalho inicial, temos uma situação madura de disseminação do Endomarketing entre todos os funcionários, especialmente entre as pessoas de contato e da linha de frente, em relação direta com o cliente. Embora estes últimos formem um alvo privilegiado do Endomarketing, seus clientes preferenciais por assim dizer, não se pode descuidar no processo de implantação do Endomarketing daqueles funcionários que não entram em contato direto com o cliente.
  
11. Você poderia especificar um pouco mais esta situação?
O Endomarketing quer estabelecer uma relação mis integrada dentro da empresa, transmitindo responsabilidade a todos, conscientizando-os dos objetivos finais do negócio que envolve a todos. Este clima de interação só se completa quando os funcionários que não lidam diretamente com os clientes, mas que de maneira indireta podem influenciar o serviço a ser prestado, tornam-se plenamente conscientes da importância da relação com o cliente. Conscientes sobretudo da nova mentalidade a ser implantada pelo marketing: a de que um setor deve comunicar-se com outro sempre com a percepção de que está lidando com um cliente interno. Aí, repito, o clima de interação está criado e vai funcionar de modo eficiente.
Para finalizar, é útil esquematizar os alvos do Endomarketing e suas etapas da seguinte maneira- aí Alta administração; b) A administração média, gerentes e supervisores: c) Os funcionários em contato com os clientes: d) O pessoal de apoio
às atividades da empresa; e) A empresa como um todo.
  
12. Será que já podemos tratar dos instrumentos usados pelo Endomarketing para ser implantado dentro da empresa?
Os instrumentos adequados para um verdadeiro programa de Endomarketing incluem o arsenal já existente do marketing. Este conjunto de instrumentos pode ser dividido em dois níveis: o de diagnóstico e o de um programa de ação. Em primeiro lugar, para que um programa possa ser eficiente, é preciso um diagnóstico que guie a ação do Endomarketing. Este diagnóstico requer, por um lado, a análise do ambiente interno da organização: avaliação do desempenho global, do desempenho de setores, do nível de integração entre os setores, da relação com os consumidores e das expectativas destes. Por outro lado, requer também o perfil dos funcionários; avaliação de desempenho: avaliação do potencial e das limitações de cada um; a imagem que têm da empresa: avaliação do nível de motivação existente; avaliação das expectativas e aspirações dos funcionários; avaliação das necessidades de treinamento; avaliação do espírito de equipe existente e dos fatores que podem inibi-lo: nível de conhecimento que têm da empresa, de seus objetivos, de seus produtos e planos.
  
13. Bem, então este é o primeiro nível de um programa de Endomarketing:
o diagnóstico. Não seria proveitoso mostrar tudo isto num diagrama?
            Excelente sugestão. (Veja-se Quadro 1)


Q U A D R O   1

PROGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DE ENDOMARKETING

Primeiro Nível: Diagnóstico

Diagnóstico A - { Avaliação do ambiente interno
Diagnóstico B - { Perfil dos funcionários

Avaliação do Desempenho Global
Diagnóstico A - { Avaliação dos setores
Nível de integração entre setores
Relação com os consumidores

Potencial dos Funcionários
Diagnóstico B -  Imagem da empresa
Nível de motivação

Expectativas e Aspirações
Necessidades de Treinamento
Espírito de Equipe
Conhecimento dos objetivos da empresa


14. Examinando os conceitos do Endomarketing,
aborda-se a ideia de cultura de serviço. O que seria uma cultura de serviço?

            (...) Cultura de serviço é o nome que se dá a uma organização empresarial em que a ,produção orientada para o cliente constitui a base do negócio, da estrutura organizacional, do comportamento e das relações de trabalho. A cultura de serviço não é nenhum coelho que surgiu de repente de uma cartola mágica, não é nenhuma invenção de “consultores espertos”. A cultura de serviço constitui uma resposta à nova realidade do mercado orientado para o cliente. A cultura de serviço é, portanto, a mais adequada resposta possível à economia de serviço.
15. Muito bem, e onde entra o Endomarketing
nesta história?
O Endomarketing é o instrumento necessário para criar os valores em que se baseia esta cultura de serviço. Mas não só os valores, pois já vimos também que cria procedimentos administrativos eficientes, como a gerência de serviços, por exemplo. O Endomarketing está, portanto, intimamente associado á cultura de serviço, pois ajuda a criar as bases, os valores e os instrumentos da estrutura organizacional adequada á cultura de serviço. Deste modo, será bem fácil identificar a presença e a importância do Endomarketing á medida que formos definindo o novo mundo das estruturas organizacionais da cultura de serviço. Em nossa segunda conversa, defini o contexto econômico, a nova realidade de mercado em que surge a cultura de serviço. Agora é o momento de abordar de forma sistemática o que é uma cultura de serviço funcionando dentro de uma empresa. Ou seja, a estrutura organizacional da cultura de serviço. 

16. E o que é que caracteriza a estrutura organizacional da cultura de serviço?
            Em primeiro lugar, a missão da empresa reside numa visão clara do serviço como uma estratégia que orienta o negócio. Em segundo lugar, esta estratégia implica o compromisso de todos os membros da empresa, da alta direção á linha de frente, com a visão do serviço e com a política de compartilhar valores e conhecimento. Em terceiro lugar, o principio da prioridade ao cliente orienta toda a linha de ação da empresa assim como as decisões gerenciais, do mesmo modo como a noção de cliente interno orienta todos os relacionamentos dentro da empresa. Em quarto lugar, a empresa cria uma promessa de serviço para o cliente listo é, dá ao cliente uma garantia relacionada ao fato de que o produto traz uma característica diferenciada de serviço e trata os seus diversos clientes (do fornecedor ao consumidor final) de forma especial. Em quinto lugar, os setores que orientam a política interna da empresa são: o compromisso com a qualidade, a cooperação a iniciativa e a recompensa obtida pela qualidade gerada pela disseminação através de toda a organização. 

17. Então tudo isto deve criar um ambiente positivo de trabalho?
            Exatamente. Ambiente é uma palavra-chave neste contexto. Pois ambiente significa, aqui, precisamente os valores compartilhados, um ambiente formado pelo acesso de todos ao conhecimento, pela cooperação efetiva, pela liberdade de iniciativa. O trabalho diário será exercido a partir do principio da sinergia, isto é, de um conjunto de ações coordenadas e simultâneas, baseadas na cooperação, para atingir um objetivo único. Considere esta metáfora: é como uma orquestra; há o regente e todo um conjunto de instrumentistas, cada qual tocando o seu instrumento de forma coordenada, com uma partitura única (os valores compartilhados, a missão da empresa) para executar uma sinfonia (a eficiência, a vantagem competitiva). E este ambiente cria novos funcionários.  

18. Novos funcionários? Como assim?
            Se a estrutura organizacional se renova, todos se renovam também. Na imagem da orquestra, a integração é o resultado, mas o conjunto está na mente de todos enquanto executam o seu trabalho particular, em seu setor particular. Todos se comunicam á medida que executam seu próprio trabalho, pois cada um, para tocar a sua parte, tem de estar atento ao outro, ouvindo o outro. Ninguém se encerra em sua própria função e em seu próprio setor para dizer "meu negócio é tocar o violino". Não, aqui "o negócio é participar da orquestra, tocando violino". E qual é o resultado?
  

19. Devolvo-lhe a pergunta: qual é o resultado?
            O resultado é um ambiente de integração conquistado pela cooperação de todos. Harmonia. Não temos mais aqui, felizmente, a costumeira briga de fronteiras entre setores. "Este é o meu negócio. Sou o departamento de compras e não o de marketing". Exatamente porque os valores do Endomarketing, a orientação para o cliente e o marketing como atividade de todos, estão presentes em todos os setores, é a música que todos tocam. Neste ambiente, o empregado está satisfeito e identificado com os valores da empresa e com sua missão. Deste modo, são os próprios valores compartilhados dentro da empresa que geram as linhas de ação.
  
20. Você pode mostrar como é que os valores compartilhados
geram linhas de ação?
            É simples. Quando, por exemplo, um funcionário da linha de frente está diante da solicitação de um cliente e precisa responder imediatamente a esta solicitação, são os valores compartilhados da empresa e o conhecimento que tem da missão da empresa que vão orientá-lo em sua decisão. Em primeiro lugar, ele está seguro de que vai tomar a decisão certa. E por quê? Porque, e isto não é nenhuma redundância, sabe que tem de dar uma resposta satisfatória ao cliente. Aí vemos como os valores compartilhados orientam efetivamente a iniciativa e a decisão dos funcionários. Mas não é só.
  
21. O que há mais então?
            Além disso, em seu trabalho cotidiano, este funcionário contará sempre com a atividade de seu supervisor ou gerente, que estará reforçando continuamente, como parte importante de sua função, estes valores e esta orientação, contribuindo, assim, para que estes valores se enraízem no comportamento do funcionário. E aqui temos dois outros aspectos dos valores compartilhados gerando linhas de ação.
  
22. Você pode especificá-los?
            Claro. Aí estão os dois outros aspectos em que os valores compartilhados funcionam como linhas de ação: o novo papel do gerente como instrutor agindo de forma cooperativa, e o enraizamento dos valores compartilhados no cotidiano dos funcionários. Referi-me á atuação do gerente, e este é um aspecto de grande importância que irei aprofundar mais adiante. Como eu disse, é simples. O que pode ser difícil é o caminho para atingir este ponto de funcionamento no qual estes valores são efetivamente compartilhados. Mas, como todos já podem adivinhar, este é exatamente o trabalho do Endomarketing: como os valores compartilhados se convertem em linhas de ação. Aqui quero enfocar um detalhe de importância que merece ser considerado.
  
23. E qual é este detalhe?
            Este detalhe se chama linguagem. Quando queremos verificar os valores que orientam de fato uma empresa, temos de voltar nossa atenção para a linguagem usada. A verdadeira imagem da empresa se reflete no que seus diretores e funcionários dizem. Por exemplo, podemos observar se a palavra cliente é usada ou não, se, em seu lugar, estão sempre falando do produto e usando uma linguagem excessivamente técnica. Neste caso, dificilmente estaremos lidando com uma empresa orientada para o cliente. Por outro lado, se a empresa estiver de fato se orientando para o cliente e para a noção complementar de cliente interno, é preciso adequar a linguagem á sua realidade. É um aspecto importante para a comunicação interna e a externa, para se chegar aos funcionários e aos consumidores finais. Mas há também o reverso da medalha.


24. E qual é o outro lado da medalha?
            É o risco de que a orientação para o cliente fique apenas na linguagem e não se converta em ação. Se uma empresa vive dizendo que seu negócio é qualidade e, ao primeiro obstáculo, corre a reduzir os custos, ela está mentindo e seus funcionários vão percebê-lo. Sendo assim, como é que se pode exigir comprometimento? Onde está o compromisso da empresa com os clientes? E, por conseqüência, também com eles, os clientes internos? A tendência é que o comprometimento seja também apenas verbal e não valores compartilhados, linhas de ação. Aqui está uma chave para a importância da estrutura organizacional: para atingir os resultados externos, o lucro, a vantagem competitiva, é preciso acertar muito bem as coisas internamente. A estratégia orientada para o cliente não pode ser mera questão de retórica.
  
25. Entendi. Mas parece que há algo mais em jogo ou não?
            Sim, você acertou. E o que está em jogo é mais um valor da cultura de serviço. A orientação para o cliente significa tanto externamente (no mercado)  quanto internamente (nas relações de trabalho dentro da empresa) a valorização da pessoa. Na cultura de serviço, não se administram pessoas como se fossem coisas. Tudo isto faz parte da velha cultura organizacional baseada na concepção técnica do produto e na administração como controle das funções que são exercidas. São características da administração impessoal, rígida, extremamente verticalizada em sua hierarquia.
  
26. E o que acontece então na estrutura organizacional
baseada na cultura de serviço?
            Nesta estrutura organizacional, a administração está comprometida com valores compartilhados e lida com pessoas comprometidas com valores. Administram-se valores com os quais os funcionários devem estar comprometidos. E são estes valores que orientam o desempenho do funcionário, a qualidade de sua tarefa. O controle é, por assim dizer, um subproduto da gerência em função de valores e das pessoas comprometidas com estes valores. A estrutura organizacional funciona a partir do triângulo de serviço, segundo a denominação de Albrecht.
  
27. E em que consiste este triângulo de serviço?
            O triângulo de serviço é um conceito que ajuda a definir a imagem dos valores que orientam a estrutura organizacional da empresa. Já era hora de introduzi-lo para iluminar ainda mais a nossa exposição. O triângulo de serviço é composto por três elementos: a cultura da empresa, representada pelos valores compartilhados pelos empregados; a estrutura organizacional e a sua liderança. 


CULTURA DE SERVIÇO NOS EMPREGADOS



TRIÂNGULO
DE 
SERVIÇO



ORGANIZAÇÃO                                             LIDERANÇA

  

O triângulo mostra a necessidade de apoio que os empregados precisam receber de três fontes: da cultura, da estrutura organizacional e da liderança.


Texto adaptado de:
BEKIN, Saul Faingaus. Conversando sobre Endomarketing. São Paulo: Makron Books, 1995.




Enga. Profa. Olga Regina Cardoso, Dra.
                        CTC/EPS - UFSC





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